Blue Eyes V

terça-feira, julho 31, 2007










CRISE DOS SETE
Carlos Savasini

Não queria pegar de jeito nenhum. Chave, luz de teto, som de bateria. Somente o som. De motor, nada. Suor, mãos tremulas, estacionamento vazio. Boca cheia de lamentos e palavrões. Só faltava uma desculpa convincente. Silêncio na mesa de jantar. Sete anos antes não faltaria assunto. A bateria seria motivo de chacota, de anedota. Agora, nem ladeira, nem gente para embalar. Nem vinho para puxar algum assunto, alguma gargalhada, um riso fácil, brincadeira de siso, de sério, de vaca amarela. É sério : depois de sete anos algumas baterias acabam. E alguns jantares arreiam.

25/07/2007)

segunda-feira, julho 30, 2007














PLANO DE VÔO
lisieux

Meu coração não tem plano de vôo...
voa rasante ao teu encontro, quase bate,
na muralha que ergueste ao teu redor.
De vez em quando ele se eleva, além das nuvens
tentando da saudade se afastar...
mas não tem jeito...
sempre volta ao teu hangar.

BH - 25.07.07

(Feito para o Varal nº 32 do Lun'as)

domingo, julho 29, 2007












DATA
Carlos Savasini

Bolacha tem data de validade
Iogurte tem data de validade
Remédio tem data de validade

Cachaça tem validade indeterminada
Se bem fechada e guardada ao abrigo da luz

Só em gente é que não vem impressa

(29/04/2007)

Hoje é aniversário do meu marido... data de validade ficando perigosamente próxima do vencimento... rs - Então, usei esse poema do meu amigo Carlos pra brincar com ele... Porque, de fato, em gente não vem impressa a data de validade... mas que ela chega, isso chega.
Brincadeiras à parte: Que Deus abençoe muito o maridão, que é sempre bênção na minha vida.

sábado, julho 28, 2007












MOTE: Francisco Garcia – RN

Como quem consola o pranto,
mesmo preso na gaiola,
o sabiá solta um canto,
e o canto lindo o consola!



GLOSA: lisieux - BH

Como quem consola o pranto
trazendo paz e perdão
como quem estende um manto
de doce consolação

O passarinho inocente
mesmo preso na gaiola,
canta pra alma da gente
e a tristeza vai-se embora

O coração, em quebranto,
voa alto, em liberdade
o sabiá solta um canto
que lhe traz felicidade.

Coração sente que o choro
faz parte da nossa escola
com o passarinho faz coro
e o canto lindo o consola!

BH - 20.07.07

sexta-feira, julho 27, 2007














SAL
lisieux

Lágrimas temperam
as carnes da face
de repente...
salgado sabor
de passado
no presente.

quinta-feira, julho 26, 2007













SE TU ME AMAS
lisieux

Se de fato me amas, não precisas
anunciar aos quatro ventos,
gritar pelas ruas,
escancarar janelas e porteiras.

Não precisas proclamar aos quatro cantos,
nem espalhar pelos quatro continentes
ou mergulhar nos quatro oceanos
para levar o teu amor, pelas correntes.

Se de fato tu me amas, não precisas
gritar pelos quadrantes da cidade,
nem ficar repetindo, repetindo,
em cada uma das quatro estações.

E nem por quatro semanas necessitas
por anúncios nos jornais dominicais...
Também não tens que, pelas quatro fases
da lua misteriosa, nos telhados,
subir a fim de anunciares, loucamente,
o teu amor por todo o firmamento.

Basta, amado, se de fato tu me amas,
entre as quatro paredes do meu quarto,
- as quatro mãos assim entrelaçadas
e quatro olhos a brilhar, na escuridão -
deixar que o amor, sem pejo, não se cale...

e que ele assim,
silenciosamente,
fale
.
.
.

BH - 25.07.07

quarta-feira, julho 25, 2007













OS MEUS SONHOS
lisieux

Os meus sonhos são todos mortos
antes do tempo
crestados como folha seca
pelo vento

Os meus sonhos são todos abortados
não tiveram tempo de nascer
foram como água, derramados
ao longo do caminho, terra seca
que os tragou,
secou-os totalmente.

Os meus sonhos são todos utopia
São fiapos, são retalhos, são pedaços
que não podem ser juntados, costurados...
e que voam, encobrindo meus espaços

não são possíveis, nem concretizáveis...

sonhos loucos
idiotas
miseráveis.

BH – 24.07.07

terça-feira, julho 24, 2007











ENVELHECER
lisieux

Antigamente corria mil caminhos
pisando sem temor pedras e espinhos,
sem me importar aonde eles chegavam

e penetrava todos os lugares
abrindo portas, conhecendo cômodos,
olhar de pura curiosidade...

Hoje os caminhos dão no mesmo pátio
todas as portas não se abrem mais
emperradas dobradiças, fechaduras...

E mesmo sendo acolhedora a sala
cheia de livros e de discos roucos
não tem mais jeito: não me sinto em casa...

Queria ter de volta os dias loucos
passar batentes, refazer as malas,
a fim de percorrer outros caminhos...

em vez de me perder nos corredores
em vez de apodrecer
jundo aos fantasmas...

BH - 23.01.07

segunda-feira, julho 23, 2007












MOTE: Carlos Fernandes

AMIZADES PORTENTOSAS
LEMBRAM CHUVAS NOS CAMINHOS:
REGAM FLORESTAS E ROSAS,
REGAM PÂNTANOS E ESPINHOS.


GLOSA: lisieux

AMIZADES PORTENTOSAS
são parte da natureza
são como tardes chuvosas
de nostálgica beleza.

São suaves, delicadas...
LEMBRAM CHUVAS NOS CAMINHOS
que cantam, nas alvoradas,
em coro com os passarinhos.

Amizades valorosas
são as chuvas de estação:
REGAM FLORESTAS E ROSAS,
lavam o nosso coração.

E não molham, tão somente
as belezas dos caminhos...
elas também, docemente,
REGAM PÂNTANOS E ESPINHOS.

lisieux - BH - 11.01.07

sexta-feira, julho 20, 2007












DIA DO AMIGO
lisieux

A amizade verdadeira é um remédio
que nos cura com presteza corpo e alma
ela nos tira o cansaço, afasta o tédio
e nos momentos de aflição, aquieta, acalma.
Amigos verdadeiros são presentes
que não têm valor de troca, nem têm preço
e eles merecem todo o meu amor e apreço.

Feito para Especial do Lun'as de 2006
Foto: juvenis da Igreja - AMIGOS

quinta-feira, julho 19, 2007














NO DIA DO TROVADOR

MOTE: (Ademar Macedo/RN)

POETAS, não são doutores,
mestres em filosofia...
poetas, são professores
da disciplina, que cria.


GLOSA: lisieux

POETAS, não são doutores,

não entendem de doenças
poetas são sonhadores
que espalham suas crenças

Também não são conselheiros
mestres em filosofia...
são apenas companheiros
nas horas tristes do dia.

Poetas não são tutores
dos que passam pelo mundo
poetas, são professores
de sentimento fecundo

Poetas são os soldados
defensores da poesia...
São professores, mestrados,
da disciplina, que cria.

lisieux - BH - MG

No dia do TROVADOR, uma glosa de uma trova de um grande trovador: Ademar Macedo.

terça-feira, julho 17, 2007










VARAL
lisieux

Minh'alma
encharcada de saudade
balança ao vento
do desprezo teu...

ou ela seca
- fica leve -
ou seco eu...

BH - 24.05.07

domingo, julho 15, 2007












SOLIDÕES DE MIM
lisieux

São tantas as solidões
que povoam nossas vidas,
que mesmo quando convidas
para entrar em teus porões,
não sei se minha conduta
é a marcha resoluta,
sem desistência ou cansaço,
ou se me perco, em disputa,
neste caminho que encurta
a distância do teu passo.

As solidões que povoam
as ruelas de minh'alma
roubam de mim toda calma
e os sonhos todos me voam...
pois encontrar não consigo
o teu amor, que persigo
pela madrugada afora.
E essas solidões, por fim,
sopram pedaços de mim
ao teu encontro, senhora.

BH - 14.07.07

Inspirado no poema de Luiz Poeta
"Solidões feitas de ti"

sábado, julho 14, 2007












REPARTIR
lisieux

Com tão poucos neste mundo tendo tudo
e com tantos que não têm o que comer...
com milhares sem ter nada, é absurdo,
continuarmos com a cegueira de não ver
que não ganhamos nada com a cobiça...

Que Deus nos faça amar e repartir
para que todos vivam com justiça...

lisieux - BH

Feito para o Varal do Lun'as

sexta-feira, julho 13, 2007

JULY, 12
lisieux
(pelo aniversário de um poeta)

Fala-se muito no quatro de julho,
a maior data dos americanos...
Importa é hoje celebrar os anos
do "meu poeta", com prazer e orgulho.

Já faz um ano que compartilhamos
nossas carências e desejos loucos
trocamos beijos e gemidos roucos
nas madrugadas em que nos falamos...

E mesmo hoje, tu ficando “velho”
surrado o lombo por divino relho,
cansado e triste, todo adoentado...

Inda te vejo tal e qual criança:
cheio de viço, cheio de esperança
de partilhar o meu abraço, amado!

FELIZ ANIVERSÁRIO, meu “menino velho”
Amo-te

segunda-feira, julho 09, 2007














SEM TI
lisieux

Mais uma vez eu digo, ressentida,
que tua ausência meu ser não suporta
que a solidão meu peito não comporta
e que minh'alma se desfaz, partida...

Não vês que a noite se tornou comprida
e que o relógio marca a noite morta,
que não consigo mais fechar a porta
e te trancar de fora da minha vida?

Não sentes falta desta tua musa
que fica a te lembrar, tão só, confusa,
sem compreender a própria emoção?

Não vês que não saber notícias tuas
é ser um cego andando pelas ruas,
perdido sem destino ou direção?

BH - 01.04.07

quinta-feira, julho 05, 2007











criação de Neli Neto para o meu poema abaixo, postado no Lun'as

CANTIGA DE RODA
lisieux

Secretamente o coração canta
uma antiga canção...
ilusão
desenha sombras
desenrola mistérios
exala perfumes
reconhecidos por
atentas narinas...
meninas
dos olhos
aprendem cirandas
girando
na noite escura...

BH – 03.07.04
03h30m













MOTE: Ademar Macedo

Quem quiser tirar a prova
basta só me dar um tema.
Pra qualquer tipo de trova
eu sou o xis do problema.


GLOSA: lisieux

Quem quiser tirar a prova
se sou boa trovadora,
se sei fazer rima nova
não sou nenhuma amadora...

Para me desafiar,
basta só me dar um tema,
que eu vou depressa provar
que sei fazer bom poema...

O povo sabe, e comprova:
trovar é minha carreira...
Pra qualquer tipo de Trova
tenho resposta "maneira".

Não tem erro, companheiro:
fazer trova é meu emblema...
E pro desfecho certeiro,
eu sou o xis do problema!
BH - 04.07.07

segunda-feira, julho 02, 2007









DORMÊNCIAS
lisieux

Quando a noite se vai, apagam-se as estrelas
e o poeta abandona a lira delicada,
as musas lá se vão... tu já não podes vê-las
pois elas se diluem, já alta a madrugada...

Recolhem-se as bacantes, aos seus divãs de seda
e as Vestais se despem de seus mantos etéreos
e Vênus comandando o exército de astros,
esconde-se com eles no ceu azul-turqueza

Desperta do seu sono a mágica cidade...
a luz do sol acorda diários afazeres
e os sons cotidianos sufocam a melodia
que antes preenchia a alma e os sentimentos.

E fecham-se, então, os olhos do Poeta.
As musas, fatigadas, precisam descansar
da noite de folguedos em campos celestiais...

O dia enfim prossegue, calado e sonolento
sem cor e sem perfume, isento das plangências
da lira magistral do amante trovador...
A vida segue o curso, sombrio, lamacento,
em lapsos, momentos, crivado de dormências
que sempre nos povoam a vida sem amor.