Blue Eyes V

quarta-feira, fevereiro 28, 2007



Senti no corpo um arrepio
quando teu corpo abracei;
não sei se tremi de frio,
ou porque me apaixonei...

lisieux - BH

sábado, fevereiro 24, 2007


SOPA DE LETRINHAS
lisieux

Misturam-se letras
elevam-se músicas
acrescenta-se o caldo
cultural...

Mais palavras,
mais poemas
outro número
musical.

Abraços, suor
e a casa lotada...
risos altos ecoam
até de madrugada...

Pra ser feliz
não é preciso
mais nada.

São Paulo – 23.02.07

Homenagem ao Vlado e ao Sopa... Bjokas!

sexta-feira, fevereiro 23, 2007















TROVINHA II

quando da lua os reflexos
batem na minha janela
passeio os olhos, perplexos,
no meio dos seios dela.

lisieux - BH

quinta-feira, fevereiro 22, 2007















TROVINHA

todo homem, posso afirmar,
precisa de uma família
pois não se constrói um lar
só com parede e mobília.
lisieux - BH

segunda-feira, fevereiro 19, 2007














APRESENTAÇÃO EM UMA REUNIÃO DE POETAS
lisieux

Trago em mim a dor de todos os passarinhos presos” – verso de um poema que li num ônibus (infelizmente, não lembro o nome do autor)
Ai de mim se não pregar o evangelho” – Paulo Apóstolo

Bom... vocês devem estar se perguntando porque eu citei essas duas frases, aparentemente sem nenhuma relação. É que muitos não sabem que sou pastora Metodista, além de poeta e que muita gente diz que essas duas atividades são incompatíveis. Sinceramente, às vezes, acho que essas pessoas estão certas.
Mas quero dizer-lhes que trago comigo muitas esperanças: esperança de um futuro melhor, de poder fazer um bom trabalho na minha comunidade de fé, de ter a possibilidade de ajudar a amenizar o sofrimento das pessoas que estão aos meus cuidados, esperança de que a Igreja mundial, como instituição, vença os obstáculos que os homens, os dirigentes cheios de si, colocaram no caminho da pregação, da implantação do Reino de Justiça e de Paz que o Cristo pretendeu inaugurar ainda quando vivia neste mundo, etc. etc.
Quero dizer também que não estou “pregando” aqui... porque não sou dona da verdade, muito menos de Deus, seja que nome ou forma Ele tenha pra cada um de nós, portanto, sei que só o diálogo ecumênico e inter-religioso é capaz de fazer com que superemos nossas diferenças e nos preocupemos mais com o outro e menos com a gente, com nossos pequenos egoísmos e arrogâncias, aprendendo a viver, assim, o verdadeiro amor, o Ágape, ensinado por Jesus.
Mas mesmo tendo todas essas esperanças, sinto-me impotente e frágil. E continua habitando dentro de mim a tristeza, a insatisfação, a vontade irrefreável de voar sempre mais... e mais alto. Permanece a ânsia por realizar sonhos e por saciar desejos que não têm nada a ver com religião e que, por mais que eu tente ignorar, fazer de conta que não existem, continuam a incomodar, a ferir, como asas de pássaros presos que fustigam e machucam o peito, ávidas por sair... garras de aves selvagens que arranham e rasgam, gritando por alcançar a amplidão azul.
Pergunto-me quando vou me aquietar, quando vou conseguir matar o pássaro do desejo, e fazer calar essa desesperada “senhora liberdade” que não se conforma e não se deixa formatar pela sociedade, por nada, nem por ninguém? Quando vou deixar de sonhar com píncaros e colocar, finalmente, os pés no chão?
Sei que posso e que devo pregar, aconselhar, cuidar das minhas ovelhas e ter uma postura digna, dar exemplos de conduta e de espiritualidade.
Mas por dentro, amados, nas insones horas da madrugada, sinto que o vulcão continua ativo... e sua lava inunda e queima o meu interior, sufoca-me e me deixa em agonia!
Se eu fosse uma freira da idade média, certamente estaria ajoelhada sobre bagos de milho, chicoteando minhas costas desnudas, a fim de penitenciar-me por estar ainda tão apegada às “coisas do mundo”, aos poéticos cânticos, em vez de apegar-me apenas ao Evangelho...mas, como estamos em pleno século XXI, como posso “fustigar-me”, com o que posso me “punir” a fim de exorcizar de mim os meus fantasmas?
Existe uma poeta louca que habita os porões de minha alma. Por que ela não se cala? Por que não recolhe seus trapos e seus pedaços de papéis rabiscados e se esconde no mais profundo da minha mente, deixando que a mulher “séria” venha à tona o tempo todo? Por que essa trovadora desvairada não pode ser silenciada, pisoteada, morta? Por que ela insiste em cantar seus versos, adversos, perversos, controversos?
Queria poder amordaçar essa poeta, essa insana criatura que me faz sofrer, que duela o tempo todo com a “outra”, comedida, gentil, religiosa. Queria colocar grilhões inquebrantáveis nos pulsos dessa mulher, a fim de que ela nunca mais escrevesse uma linha sequer de poesia... Queria aprisionar pra sempre essa criatura descabelada, de olhar demente, insaciável a fim de que a pastora pudesse seguir calmamente o seu caminho, como o Homem de Nazaré que “andava fazendo o bem”.
Afinal, de que serve a poesia? A Teologia é mais útil, porque a primeira é fantasia e a segunda é vida eterna... mas essa semente “maligna” insiste em brotar no solo da minha alma... não sou capaz de arrancar essa erva daninha... não sou capaz de calar a trovadora, não sou capaz de esterelizar a semente da poesia.
Lido, desde menina, com palavras... e, para mim, a palavra perde e ganha significado, apenas através do verso... com o qual assino a minha sina de poeta. Sina da qual não posso fugir. Como também não posso fugir da minha vocação religiosa, do meu amor pela Teologia, que também é PALAVRA, essa maiúscula, porque RHEMA, palavra criadora.
Mas se também a poesia é criação, novamente me divido. E, não tenho, portanto, como fugir dessa dualidade. Assim, respondo aos que dizem que pastora e poeta não podem conviver, que eu permaneço, diante da palavra, tão desconcertada e passional como sempre fui... E sigo escrevendo, poesia e sermões...
Tentando com todas as forças levar a Palavra profética àqueles que precisam e a palavra poética a todos quantos ainda sabem sonhar...

E continuo, amados, trazendo no peito uma dor imensa, interminável: a mesma dor incomensurável de todos os passarinhos presos...

lisieux

domingo, fevereiro 18, 2007

















QUEM SOU, DE ONDE VIM, PRA ONDE VOU
lisieux
Eu sou mulher, a obra mais perfeita
do Criador, pois tenho o dom de amar.
Por este Deus eu fui um dia eleita
para ajudá-lO a vida a recriar .

Eu vim do sopro d'Ele, vim ao mundo
quando de Adão Ele me retirou
Adão dormia sono bem profundo
de sua costela, Ele me formou.

Eu sou eleita... sou a escolhida
para espalhar o dom maior -a vida-
por toda parte, seja aonde eu for .

E vou, um dia, descansar nos braços
d'Aquele que é o guia dos meus passos:
Jesus... meu Mestre Amado, meu Senhor!

BH - 20.01.0406h15m

















FALTA POUCO
(relendo Rô Aliberti, em "Quaquaraqua-quá")
lisieux


Falta pouco pra folia começar
pra quatro dias (só 4?) de descontração
pra todos se esquecerem da inflação,
e até da morte do menino João,
e arrastarem no asfalto, almas, corpos
fantasias e carros alegóricos.

Falta pouco pra vivermos ilusões
de sermos faraós e odaliscas
de sermos esquimós, duendes, fadas,
sermos de tudo um pouco, na avenida...
Falta pouco para enchermos os salões
de marchinhas retiradas do baú
e estourarmos o cartão do Itaú
e gandaiarmos sem preocupações.

Falta pouco para o sexo rolar
(com camisinha, que á para não engravidar)
pra desfilarem nas Escolas corpos nus
à vista dos olhares do estrangeiro
e pra galera enlouquecida se soltar
na carniça esvoaçar feito urubus
nas praias do meu Rio de Janeiro.

Falta pouco... pra folia se acabar
e o povo retornar à vida morna
voltar para as famílias e os empregos
pra rezarem ladainhas e promessas
pra viverem apertados e com pressa
a vida de operários, de "pelegos",
só à espera de outro carnaval chegar...

BH - 17 de fevereiro de 2007

sexta-feira, fevereiro 16, 2007


Sem inspiração, volto a remexer o baú...

DAS UTOPIAS
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas! _ Mário Quintana

Concordo com ele, como sempre...
Se a gente não puder sonhar, estaremos perdidos! E quanto mais olho as estrelas, brilhando no céu já de verão aqui em BH, mais perto estou das estrelas que brilham no céu de Gravataí, as mesmas que tu olhas... sonhar com estrelas... ou com o que elas significam... poético... mas triste! Aliás, triste como tristes são todos os poetas!
Coisas inatingíveis! Pessoas inatingíveis... sentimentos indecifráveis... “incorrespondíveis”! (palavra fresquinha, acabada de ser inventada por mim) ... mas, nem por isto menos reais, menos desejáveis! Pra falar a verdade, quanto mais inalcançáveis parecem as coisas e pessoas, mais as desejamos... acho que cada ser humano é um pouco masoquista... sabe que sofrerá por desejar o que não pode alcançar, mesmo assim, fica alimentando o desejo, guardando a lembrança do objeto do seu querer, sonhando com ele diuturnamente... ainda que isto cause, a cada dia mais e mais tristeza e sofrimento...
Gente ainda mais difícil de entender são os poetas... que podem fazer com que o sofrimento que consome e mata, pareça bonito, que podem fazer com que a dor torne-se companheira tolerável e que a saudade seja até bem-vinda!
Bah! Melhor não prosseguir... porque os poetas têm tb o “dom” de se tornarem amargos... e, às vezes, ficam repetindo monotonamente o mesmo “refrão”... e, assim, acabam fazendo com o que leitor o abandone... indo em busca de novas emoções...
Mas... pensando bem... não adianta muito... porque as “novas” emoções buscadas em novos poetas, jamais serão de fato novidades... porque o sentimento que as trarão à tona, sempre será o mesmo: O AMOR... mola-mestra que impulsiona a alma dos poetas de todas as idades e de todas as gerações...
É isto... repetindo... repetindo-me... repetindo-me-te repetindo-repetindo o refrão... sempre repetindo... porque não existe nada de novo debaixo do céu... é tudo repetição...recriação...
E o amor.. é sempre o mesmo amor...

BH - lá longe, no passado...

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

ROTINA
lisieux

Áspera rotina
me arranha
tece, teia de aranha
enreda, enredo,
os meus sentidos.

Véspera de sábado
faço faxina
levo o lixo
pra esquina
perfumo meu quarto
sacudo os vestidos.

Abstrato,
teu retrato
me olha sisudo
ali
do criado-mudo...

Final de semana,
sem festa, sem grana
sem graça
sem nada.

segunda se avizinha
....
e pra minha tristeza
veloz, a aspereza
de novo
espezinha

repete
rotina

e o teu retrato
continua
a me fitar...


BH – 13.07.06
20h09
















COMO PUDE?
lisieux
(do baú...)

Como é que eu consegui te amar assim,
se nem um só motivo tu me deste?
Se logo no começo, me disseste
que tu não eras ideal pra mim?

Como é que eu consegui me apaixonar
se não tinhas por mim nenhum desejo?
Se mesmo o gosto doce do teu beijo
me deste por não ter a quem mais dar?

Por que eu fui me entregar feito criança?
Por que nutri no peito essa esperança
de toda a minha vida estar contigo?

Como eu pude pensar que eras só meu,
se o teu “amor” depressa se perdeu,
E hoje não és nem mesmo meu amigo?

BH - 01.05.03

terça-feira, fevereiro 13, 2007




















MOTE E GLOSA
lisieux

Ia um casal caminhando,
bem velho, trôpego o passo...
Era a Saudade levando
o Passado pelo braço... -(Elton Carvalho)


IA UM CASAL CAMINHANDO
assim, sem olhar pros lados;
olhos vivos, cintilando,
um no outro, mergulhados...

Era o par - todos notavam -
BEM VELHO, TRÔPEGO O PASSO,
mas eles se imaginavam
sem rugas e sem cansaço.

Podia-se ver, andando,
ao lado deles um vulto:
ERA A SAUDADE LEVANDO
da sua vida o tributo...

Saudade amiga, aninhava
o casal num terno abraço...
E o amor deles carregava
O PASSADO PELO BRAÇO

lisieux - BH - 21.06.06

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

As Esperanças arrastadas por bem mais que sete quilômetros...
®Lílian Maial

Comoção nacional, eu sei, mas não consigo trabalhar as coisas com o imediatismo e a falta de memória da população. Não consigo me assustar em proporções maiores com o caso desse menino que morreu arrastado por 7km, preso pelo cinto de segurança ao carro que os bandidos roubaram, e que sua mãe não conseguiu soltar, na pressa, do que com outros meninos arrastados a uma vida que não tiveram escolha.
Entendo a dor dessa mãe, dessa família, mãe como eu também o sou, percebo a maldade, a falta de respeito à vida, a inversão de valores, porém me esforço e não entendo o quanto tamanha violência possa ser maior que a dos idosos incendiados no ônibus, presos por não terem a agilidade dos jovens para escapar, ou a indiferença das pessoas diante dos meninos malabaristas de sinal de trânsito (semáforo), ou ainda diante das meninas prostituídas, quando ainda deveriam estar brincando de bonecas.
É óbvio que vejo a gravidade do caso e a necessidade de providências, contudo não sinto em quê esse fato é mais sério do que o descaso social com as crianças todas, com a falta de vagas em escolas, as reformas educacionais que não comportam o aprendizado, mas o passar de ano.
Não imagino violência maior do que o estado de maquiagem de fachada dos hospitais públicos, das escolas públicas, enfim, de quase todos os serviços públicos, para os quais pagamos impostos exorbitantes, e que deveriam, portanto, ser padrão de excelência em todo o mundo, porque não há país no mundo que pague tanto para receber tão pouco.
Se formos analisar a raiz de todo o mal e a violência que estão aí, chegaremos num denominador comum, tão alardeado há muito por inúmeros estudiosos, como o Professor Darcy Ribeiro, que é a educação (ou falta dela). No planejamento do Professor Darcy Ribeiro para os CIEPs, era imprescindível ocupar as cabecinhas das crianças com estudo, cultura, arte e uma profissão, num ciclo integral na escola, de formação de homens de bem, com alimentação balanceada de qualidade, assistência médica, odontológica e psicológica, ensino profissionalizante, para que o adolescente já saísse com chances de absorção pelo mercado de trabalho, com instrução, formação profissional e cultura geral.
O conhecimento gera o desejo de desenvolvimento, de crescimento interior, com a cristalização de valores, como a família, o estudo, o esforço individual para conquistas e sucesso.
Sem a educação completa, o que vemos são crianças freqüentando a escola para comer e farrear com colegas, muitos com péssimas influências sobre os demais, como pequenos xerifes, já mostrando, desde a tenra infância, que há dois grupos distintos: os que estão com eles e os que estão contra eles.
Não preciso dizer mais nada, não é?Crescendo assim ou no ócio, essas crianças irão se transformar em quê? A mim, me comove e me revolta ver crianças sem sala de aula, professores sem dignidade, quase que apanhando dos alunos, diretores pressionados por normas estabelecidas sem a vivência do ambiente escolar, sem noção da realidade vivida em cada comunidade e em cada bairro.
A população ainda não entendeu que quem comete hoje esses atos de barbárie foram aquelas crianças ignoradas e esquecidas de ontem, foram aquelas para as quais se fechava vidros de carros, se virava o rosto nas ruas, se evitava olhar nos olhos famintos.
Quantos filhos meus, nossos filhos, terão que ser arrastados por 7km, para entendermos que muitos outros filhos já são arrastados na lama há décadas, talvez séculos, sem que nenhum de nós se comova ou faça algo para defendê-los.
Hoje a população se revolta e enluta por esse menino de apenas seis anos, barbaramente assassinado, mas continua a esquecer que os incontáveis meninos de até bem menos idade continuam a serem arrastados a esse caminho, por nossa culpa, por culpa da anuência dos pais dos outros meninos, cujos filhos ainda poderão vir a serem arrastados amanhã.
Se não acordarmos para a situação social em que vivemos, em breve não teremos mais chance de abrir os olhos.

PS - Adorei o texto da Lílian por concordar com ele totalmente. Os "culpados" de tudo o que vivenciamos em termos de violência nos nossos dias, é nossa culpa exclusiva... Que Deus tenha piedade de nós.

domingo, fevereiro 11, 2007














NUA E CRUA
Hildebrando Menezes

A poesia tem salvo conduto
Condutora, ela é pura!
É arte! Transcende!
Dizem que pensar é transgredir.
Certo! Nada mais limpo. Humano!
Que o coração do poeta gritando.

Se o poema nasce com regra...
Não nasce, padece no ventre.
Ou morre ali...mais à frente.
O poema tem que ser livre
Não é versículo bíblico
É o grito de amor desesperado
Que se dá, sem cuidado...
Para entrar como oxigênio no sangue,
No corpo e n’alma dos apaixonados

Se ele for cerceado, censurado
Por moralistas desinformados
Os versos murcham, morrem, matam!
Como mataram o menino arrastado.
Covardes, esquecidos do amor...

Vocês são os profetas do ódio
O mesmo que vive escondido
No coração desumano dos criminosos.
Que esquecidos do amor...condenam
O que há de mais belo: a sensibilidade!

De saber que nascemos para criar
É aqui que mora a vida, a felicidade...
Poder se expressar quando a dor,
O desamor, a selvageria, a barbárie
Quer tomar o lugar da Paz.

Por que não conjugar o verbo AMAR?!


Este lindo poema do meu amigo poeta me falou ao coração. Fica pois aqui, pertinho do meu, gritando pela vida crestada tão cedo, do garotinho... Bjokas, amigo... p(r)o(f)eta.

sábado, fevereiro 10, 2007




















ASAS CORTADAS
lisieux

Veloz, o carro vai...
e no seu rastro
fica o passado
- curto -
de um menino.

O sangue escreve
no asfasto fervente,
história demente
de enredo tão breve.

Felizmente
o pequeno anjo
(mesmo cortadas as asas)
tem destino certo.

Quanto a nós,
cidadãos,
temos o sangue
do inocente
em nossas
mãos.

BH – 10.02.07

sexta-feira, fevereiro 09, 2007















CÉU POENTE
lisieux

Coração índigo blue
solta a voz
frente ao espelho...

Notas azuis
no horizonte
ver-me-lho.

BH – 29.11.06




















TUDO MUDA?
lisieux

Se tudo muda, porque permanece
no peito meu esta saudade insana?
Se muda o mundo, como, me parece
sempre voltar, ciranda desumana?

Não muda nada! Permanece tudo
tão imutável, tão vazio e mudo
como nós dois, perdidos, desgarrados...

Se atentares, podes ver, amado,
que na verdade, nada é diferente;
que tudo volta, sempre, à nossa mente
e que só repetimos, no presente,
tudo o que nós vivemos no passado.

Somos ainda as mesmas pessoas...
e ainda temos muitas coisas boas
que apenas nos poemas nós mostramos...

E embora ambos estejamos mudos,
nada mudou:
ainda nos amamos!

BH – 07.02.07

quarta-feira, fevereiro 07, 2007




















TUA LOUCURA
lisieux

Tua loucura não é senilidade!
A tua idade não é responsável
pela infindável sede de ternura...
Porque, amado, em qualquer idade
temos necessidades e carências
e a latência do desejo grita,
seja nos velhos, ou na juventude.

Tua loucura é, pois, só a vontade
de liberdade, de despojamento,
breve momento de descompostura...
Não é pecado desejar carinho
ter o gostinho de saber-se amado
e desejado, sem cobrança ou tédio.

Melhor remédio para a solidão
é fazer versos, plenos de paixão,
para uma musa, mesmo virtual...

E se é loucura teu forte desejo
sem nenhum pejo eu digo, criatura,
que também trago em mim essa loucura
e que não vejo nisso nenhum mal.

E no meu caso, sou mais louca ainda,
porque carrego uma ternura infinda
e por ti tenho uma paixão real.

BH - 07.02.07


AMPLEXO
lisieux

Tudo que me sobra
transborda...

pelos olhos,
pelos póros,
pelo sexo...

Complexo!
BH - 21.01.07

terça-feira, fevereiro 06, 2007















DE COSTAS
lisieux

O meu poeta,
me virou as costas
e desapareceu...

Foi-se de repente,
na nuvem pesada,
no raio, trovão,
na chuva, torrente,
na água, enxurrada,
elementos em fúria
no meu coração.

Sumiu bem ali,
numa curva de estrada.

E o fio do verso
ficou esticado,
chorando, plangente,
qual corda retesa
de um violino...
Qual fera, qual presa,
calado, dormente,
maluco, perverso,
total desatino...

Queria enrolar
o novelo do verso
trazê-lo pra perto,
apertá-lo em meu peito...
Porém eu receio
poeta querido,
que o fio se rompa,
se parta no meio...

Depois de rompê-lo,
tu fiques, pra sempre,
rodando no meio
do verso,do sonho,
cruel pesadelo.

BH - 05.02.07

domingo, fevereiro 04, 2007












BAGAGEM
lisieux

A minha bolsa conta mil segredos
nos poucos objetos que carrega.

Não são dinheiro, celular, cartões,
talões de cheque, óculos, boleto...
O que eu levo assim,
a tiracolo,
é o peso da saudade do teu colo
e a tua foto antiga,
em branco e preto.

BH - 01.02.07
Feito para o Varal do Lun'as nº 7

sábado, fevereiro 03, 2007


GUISADO
lisieux

Na panela a receita,
perfeito sabor
que agrada e alimenta:

amor...
e pimenta!

BH - 30.10.06






















GEOGRAFIA CORPORAL
lisieux

Meus medos inocentes
tu vences, sem censuras,
sem dúvidas, enganos...

Palmilhas chão e alturas
crateras e oceanos,
montanhas e arvoredos...

Desvendas os segredos
dos cinco continentes
na ponta dos teus dedos.

BH – 06.08.06

sexta-feira, fevereiro 02, 2007






















DUPLICIDADE
lisieux


Às vezes eu sou macho:
te coloco porta a fora,
viro a mesa,
dou cascudo...

Às vezes viro fêmea:
me desnudo...
imploro,
me ajoelho,
cato cacos...

E esqueço tudo!

BH - 23.01.07

quinta-feira, fevereiro 01, 2007




















MUSA DA RUA
lisieux

Seminua
barrigão à mostra,
umbigo saliente sob a blusa
tão apertada que amassa o seio...
Bonitas pernas,
soltas, andarilhas,
apesar das cicatrizes...
feridas de que?

Dos cacos de vidro que cobrem as ruas,
de pedras, porretes, das surras dos pais,
ou do companheiro
- menino também-
mas que sabe bater
e que diz que aprendeu
só pra se defender?

Menina franzina
com outra menina,
coberta de panos,
que leva nos braços
e outra no bucho...
vai logo chegar.
E ainda sorri
ao pedir o “trocado”;
pra ela é pecado
até mesmo chorar.

Menina, menina...
que fazes na rua?

Devias estar
numa cama de nuvens
coberta de estrelas,
sonhando com fadas, princesas, dragões...
Teu corpo, menina,
não é para os bancos
das praças, calçadas,
faróis, estações...

Devias sonhar,
até mesmo acordada,
os sonhos amenos
de toda menina,
mas estes... ah, não!
Não sonhos que brotam
(talvez pesadelos),
do saco com droga
que apertas na mão.

Tu és Cinderela,
porém tu não sabes.
Apenas percebes
os vultos à volta,
insultos, revolta,
casebres, favela.
Teu maior desejo
não é ser princesa,
mas ter uma vidafeliz,
de novela.

Que fazes, menina,
de noite, na rua?
Teus olhos deviam
olhar para os lados
e ver o teu quarto
pintado de rosa,
cortinas azuis...
Porém tua vida
só tem duas cores:
o preto da pele,
que assina tua sina
e o branco dos homens
que exploram, menina,
tua vida, teu corpo,
tua mente, trabalho.

Colorido?
Apenas a blusa
amarela que usas...
o rosa encardido
do teu par de meias...

Ah!
E o sangue
vermelho
que corre em tuas veias…

BH - 23.01.07