Blue Eyes V

sexta-feira, novembro 09, 2007

















CANÇÃO DE SER TRISTE
lisieux

Como ser otimista, radiante,
se minha estrela (astro inconstante)
vive no céu, a se esconder assim?
E como vou sorrir, se nesse instante,
me ataca o coração punhal cortante,
e só me faz sentir pena de mim?

Como levar nas mãos raio brilhante
se o meu olhar, outrora cintilante,
se apaga estando assim longe do teu?
Como cantar a musical corrente
dos rios calmos, se feroz enchente
deságua sem parar no peito meu?

Como descer da serra uma vertente
a saltitar, plena de luz, contente,
se o meu caminho é tão empoeirado?
Como soltar a voz suavemente,
se dos dos meus lábios brotam, de repente,
triste gemido, vindo do passado?

Empoeirado também fica o meu plangente
violão que era o amigo e confidente
nas lindas melodias de paixão.
Mas hoje abandonado, ali, silente,
ele não fala mais à minha mente,
nem toca as cordas do meu coração.

E o que eu posso, amado, é tão somente,
tentar deixar o coração dormente,
fazer de conta que tenho alegria...
Mas não consigo - o meu olhar não mente -
sorrir pro mundo todo, futilmente,
trazendo a minha alma tão vazia...

E na verdade o que me faz doente,
que faz doer o peito, de repente
e joga a sanidade nos desvãos,
é a minha poesia inconseqüente
que faz-me amar-te indefinidamente
e que me entrega toda em tuas mãos.

BH - 09.11.07